Powered By Blogger

sábado, 29 de setembro de 2012



TEMPO É AMOR
Mc 9, 30-37
 
Jesus e os discípulos saíram daquele lugar e continuaram atravessando a Galiléia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde ele estava porque estava ensinando os discípulos. Ele lhes dizia:
- O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e eles vão matá-lo; mas três dias depois ele ressuscitará.
Eles não entendiam o que Jesus dizia, mas tinham medo de perguntar. Jesus e os discípulos chegaram à cidade de Cafarnaum. Quando já estavam em casa, Jesus perguntou aos doze discípulos: - O que é que vocês estavam discutindo no caminho?  Mas eles ficaram calados porque no caminho tinham discutido sobre qual deles era o mais importante. Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse:  - Se alguém quer ser o primeiro, deve ficar em último lugar e servir a todos.  Aí segurou uma criança e a pôs no meio deles. E, abraçando-a, disse aos discípulos: - Aquele que, por ser meu seguidor, receber uma criança como esta estará também me recebendo. E quem me receber não recebe somente a mim, mas também aquele que me enviou.
Esse evangelho tem uma beleza maior, que não aparece à primeira vista. Marcos escolhe os pormenores detidamente, com uma preferência especial pela geografia. Para ele, a escolha dos lugares não é inocente.
 Hoje, ele coloca Jesus atravessando a Galiléia, o estado onde Ele nascera e no qual, certamente, tinha mais sintonia, mais liberdade. Ali, Ele queria estar apenas com os discípulos, ao contrário de tantas vezes em que falava para as multidões. Com amigos íntimos, a conversa é diferente, nasce do coração, pois há uma intimidade. Portanto, também Jesus sentia necessidade de partilhar seu íntimo com amigos próximos.
 É quase como um desabafo, pois Ele começava a sentir que sua vida corria perigo. Diante da aflição dos apóstolos, Ele anuncia que ressuscitaria, mas esse anúncio lhes passa despercebido, e, entre si, começam a discutir sobre qual deles era o mais importante, num conhecido jogo de vaidades, de pretensões tolas.
Também nós vivemos cercados de futilidades, de conversas vazias, que nos ocupam o dia todo. Um pouco afastado, Jesus manjava a situação, mas não diz nada. Eles chegam a Cafarnaum, uma cidade bonita à beira do lago, onde estava a casa de Pedro que, certamente, era um microempresário na região.
Cria-se um clima de expectativa, e Jesus pergunta sobre o que conversavam. Eles se envergonham da discussão, mas Jesus intui tudo e lhes deixa uma lição que vale para todos nós. É interessante que Marcos distingue discípulos de apóstolos. Durante a viagem, ele fala em discípulos, pois eram mais numerosos, mas ao chegarem à Cafarnaum, ele fala em apóstolos, aqueles que realmente eram mais íntimos.
            Hoje, Jesus olha no olho de cada um de nós e diz que, se quisermos ser o maior, devemos ser aquele que serve. Se quisermos aparecer, mostrar as nossas vantagens, precisamos começar colocando-as a serviço dos outros. Ser o último não é achar que não valemos nada, mas reconhecer o nosso valor e colocar tudo o que somos a serviço dos outros.
Os americanos têm uma frase famosa: “time is money”, isto é, tempo é dinheiro. Peço-lhes licença para mudar a frase: “time is love”, tempo é amor, tempo é vida. Amamos alguém dedicando-lhe o nosso tempo, dando-nos aos outros. Estamos acostumados a dar presentes, mas precisamos aprender a dar a nós mesmos, assim como Jesus, que fez de sua vida uma contínua entrega de si. Se quisermos medir o amor que temos a uma pessoa, perguntemo-nos sobre o tempo que gastamos com ela. Precisamos saber nos colocar à disposição dos outros, ouvindo, acolhendo, entendendo. Quando somos capazes de entender a dor e a solidão do outro, é sinal de que lhe temos amor.
            Jesus disse isso para aqueles homens, e como se não bastasse, trouxe ainda uma criança que, naquela época e naquela realidade, tinha um significado diferente do nosso, era desprezada e desprotegida. Jesus quer nos mostrar que o seu projeto tinha a beleza da inocência de uma criança. Diante daquela criança, Jesus nos diz que aquele que acolhe um desprotegido, acolhe a Ele mesmo. Jesus quer nos mostrar que o seu projeto tinha a beleza de uma criança, isto é, a inocência, a limpidez, a necessidade de carinho, proteção e ternura. Acolher um desprezado é se aproximar de alguém necessitado de ajuda, alguém que, naquele momento, é uma criança, mesmo sendo um velho ou um machão que pensa que pode tudo. Se conseguirmos viver essa experiência, conseguiremos entender o que Jesus nos disse hoje. Amém.
Álvaro Celso
 

 
 

Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa

(Hom. 34,8-9:PL76,1250-1251)

(Séc.VI)

A palavra anjo indica o ofício, não a natureza

 

É preciso saber que a palavra anjo indica o ofício, não a natureza. Pois estes santos espíritos da pátria celeste são sempre espíritos, mas nem sempre podem ser chamados anjos, porque somente são anjos quando por eles é feito algum anúncio. Aqueles que anunciam fatos menores são ditos anjos; os que levam as maiores notícias, arcanjos.

Foi por isto que à Virgem Maria não foi enviado um anjo qualquer, mas o arcanjo Gabriel; para esta missão, era justo que viesse o máximo anjo para anunciar a máxima notícia.

Por este motivo também a eles são dados nomes especiais para designar, pelo vocábulo, seu poder na ação. Naquela santa cidade, onde há plenitude da ciência pela visão do Deus onipotente, não precisam de nomes próprios para se distinguirem uns dos outros.

Mas quando vêm até nós para cumprir uma missão, trazem também entre nós um nome derivado desta missão. Assim Miguel significa: “Quem como Deus?”; Gabriel, “Força de Deus”; e Rafael, “Deus cura”.

Todas as vezes que se trata de grandes feitos, diz-se que Miguel é enviado, porque pelo próprio nome e ação dá-se a entender que ninguém pode por si mesmo fazer o que Deus quer destacar. Por isto, o antigo inimigo, que por soberba cobiçou ser igual a Deus, dizendo: Subirei ao céu, acima dos astros do céu erguerei meu trono, serei semelhante ao Altíssimo ( cf. Is 14,13-14), no fim do mundo, quando será abandonado às próprias forças para ser destruído no extremo suplício, pelejará com o arcanjo Miguel, como diz João: Houve uma luta com Miguel arcanjo (Ap 12,7).

A Maria é enviado Gabriel, que significa “Força de Deus”. Vinha anunciar aquele que se dignou aparecer humilde para combater as potestades do ar. Portanto devia ser anunciado pela força de Deus o Senhor dos exércitos que vinha poderoso no combate.

Rafael, como dissemos, significa “Deus cura”, porque ao tocar nos olhos de Tobias como que num ato de cura, lavou as trevas de sua cegueira. Quem foi enviado a curar, com justiça se chamou “Deus cura”.

 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012


SÃO MATEUS, APÓSTOLO E EVANGELISTA
Festa
Nasceu em Cafarnaum, e exercia a profissão de cobrador de impostos quando Jesus o chamou. Escreveu o Evangelho em língua hebraica e, segundo uma tradição, pregou no Oriente.
 
Das Homilias de São Beda Venerável, presbítero

(Hom. 21:CCL, 122,149-151)

(Séc.VI)

Jesus viu-o, compadeceu-se dele e o chamou

 

Jesus viu um homem chamado Mateus, assentado à banca de impostos, e disse-lhe: Segue-me (Mt 9,9). Viu-o não tanto com os olhos corporais quanto com a vista da íntima compaixão. Viu o publicano, dele se compadeceu e o escolheu. Disse-lhe então:

Segue-me. Segue, quis dizer, imita; segue, quis dizer, não tanto pelo andar dos pés, quanto pela realização dos atos. Pois quem diz que permanece em Cristo, deve andar como ele andou (1Jo 2,6).

E levantando-se, o seguiu (Mt 9,9). Não é de admirar que o publicano, ao primeiro chamado do Senhor, tenha abandonado os lucros terrenos de que cuidava e, desprezando a opulência, aderisse aos seguidores daquele que via não possuir riqueza alguma. Pois o próprio Senhor que o chamara exteriormente com a palavra, interiormente lhe ensinou por instinto invisível a segui-lo, infundindo em seu espírito a luz da graça espiritual.

Com esta compreenderia que quem o afastava dos tesouros temporais podia dar-lhe nos céus os tesouros incorruptíveis.

E aconteceu que, estando ele em casa, muitos publicanos e pecadores vieram e puseram-se à mesa com Jesus e seus discípulos (Mt 9,10). A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores o exemplo da penitência e do perdão.

Belo e verdadeiro prenúncio! Aquele que seria apóstolo e doutor dos povos, logo no primeiro encontro arrasta após si para a salvação um grupo de pecadores. Assim inicia o ofício de evangelizar desde os primeiros começos de sua fé aquele que viria a realizar este ofício plenamente com o merecido progresso das virtudes. Contudo se quisermos indagar pelo sentido mais profundo deste acontecimento nós o entenderemos: a Mateus foi muito mais grato o banquete na casa do seu coração, preparado pela fé e pelo amor do que o banquete terreno que ele ofereceu ao Senhor. Atesta-o aquele mesmo que diz: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo (Ap 3,20).

Ouvindo a sua voz, abrimos a porta para recebê-lo, ao aceitarmos de bom grado suas advertências secretas ou evidentes e nos pormos a realizar aquilo que compreendemos como o nosso dever. Ele entra para que ceemos, ele conosco e nós com ele, porque, pela graça de seu amor, habita nos corações dos eleitos para alimentá-los sempre com a luz de sua presença. Possam assim os eleitos cada vez mais progredir no desejo do alto, e ele mesmo se alimente com os desejos deles como com pratos deliciosos.