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segunda-feira, 1 de outubro de 2012


 

(Mc 7, 31-37)

Jesus saiu da região que fica perto da cidade de Tiro, passou por Sidom e pela região das Dez Cidades e chegou ao lago da Galiléia. Algumas pessoas trouxeram um homem que era surdo e quase não podia falar e pediram a Jesus que pusesse a mão sobre ele. Jesus o tirou do meio da multidão e pôs os dedos nos ouvidos dele. Em seguida cuspiu e colocou um pouco da saliva na língua do homem. Depois olhou para o céu, deu um suspiro profundo e disse ao homem: - "Efatá!" (Isto quer dizer: "Abra-se!") E naquele momento os ouvidos do homem se abriram, a sua língua se soltou, e ele começou a falar sem dificuldade. Jesus ordenou a todos que não contassem para ninguém o que tinha acontecido; porém, quanto mais ele ordenava, mais eles falavam do que havia acontecido. E todas as pessoas que o ouviam ficavam muito admiradas e diziam:  - Tudo o que faz ele faz bem; ele até mesmo faz com que os surdos ouçam e os mudos falem! (Mc 7, 31-37)

Os evangelistas não narram os fatos como lemos hoje em nossos jornais. Eles escolhem o que querem falar e, sobretudo, Marcos tem muito interesse pela geografia, ressaltando algumas regiões de maneira simbólica. Nesse trecho, ele coloca Jesus voltando para a sua região, às margens do mar da Galiléia ou Tiberíades. No caminho, passa pela decápole, isto é, dez cidades pagãs onde se falava grego e onde Ele não costumava pregar, muito menos fazer milagres, pois acreditava que seu ministério estava voltado particularmente para o povo judeu. Mas quando Ele depara com aquele pobre homem surdo que mal conseguia balbuciar algumas palavras, deixa de lado o seu propósito de não andar nas regiões estrangeiras e lá não fazer milagres e também sem querer chocar as pessoas, retira-se e se volta para Deus Pai. Diz então uma palavrinha que até entrou no ritual do batismo, quando o celebrante toca o ouvido da criança: Efata!, isto é, abre-te à palavra de Deus.

            Mas nós hoje temos que saber que esse surdo já está morto e essa palavra de Marcos precisa ser ouvida por nós que estamos aqui. Ele não estava pensando apenas naquele surdo, muito menos na cura de uma doença física, pois para essas existe a medicina. É para nós que Jesus se volta, nos perguntando se aqui, nesta grande assembléia, existem surdos e mudos, indiferentes à sua palavra. Aproveito para recordar uma citação do livro dos Salmos no Antigo Testamento (*) para que vocês possam entender melhor. Lá, o salmista zomba dos deuses pagãos, dos ídolos, que tinham olhos, mas não viam; tinham ouvidos, mas não ouviam; tinham boca, mas não falavam, ao contrário de Javé, que fala e ouve as orações de seu povo.

            Evidentemente, nenhum de nós hoje cultua ídolos, como os pagãos, mas nós mesmos somos ídolos quando só existimos para nós mesmos. O nosso eu fica no centro e nada mais nos interessa. Ficamos surdos, cegos e mudos a tudo e a todos que nos rodeia. Somos cegos porque não conseguimos ver, no rosto das pessoas, o seu sofrimento, sua dor, sua tristeza, sua necessidade; ficamos presos ao espelho e à vaidade. Somos surdos, porque só ouvimos a nós mesmos, sem nenhuma sensibilidade para ouvir uma criança. Somos mudos porque só falamos de nós mesmos, só nos fixamos em coisas inúteis, só dizemos palavras que machucam as outras pessoas. Para o evangelho, quem vê, vê Deus nas pessoas; quem ouve, está atento à palavra de Deus, que nos questiona e nos modifica; e quem fala, leva aos outros palavras que os fazem crescer.

            Vocês já devem ter percebido que nós ouvimos, falamos e vemos com a cabeça, assim como temos os pés plantados no chão. Entre a cabeça e os pés está o coração, o símbolo do amor. Só falamos, só vemos e só ouvimos se verdadeiramente amamos, pois só o amor tem a força de abrir o nosso coração para que possamos nos ver e ouvir mutuamente. Numa sociedade tão individualista quanto a nossa, esse evangelho é de uma enorme profundidade. Que possamos sair desta celebração vendo o irmão, ouvindo a palavra de Deus que nos converte e dizendo palavras que levem os outros a se tornarem melhores. Amém.

 

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